Quando chegamos ao Rossio eram quatro horas da tarde. Como ainda não era hora de ponta, decidimos esperar mais ou menos uma hora, para começarmos a nossa revolução. Perdemo-nos em olhares para as pessoas que passavam num vai-e-vém apressado e constante. Eu estava sentado, nos braços da Ana. Pensei que papel é que um grupo de jovens como nós poderá ter no mundo e até que ponto as pessoas nos darão a sua atenção. Geralmente costuma-se dizer que é na idade em que somos mais jovens que temos o sonho de mudar o mundo e as coisas à nossa volta, mas que isso costuma passar. Os meus pais dizem-me inúmeras vezes que também eles sonharam com um monte de utopias que mais tarde deixaram de acreditar e que hoje nem sequer julgam possíveis. Contudo, vê-se que sentem um certo saudosismo e uma nostalgia por um tempo em que pelo menos ainda sonhavam com alguma coisa mesmo que não se tivesse concretizado. Na opinião deles, porque «o mundo é mesmo assim», as regras estão feitas e nós temos de nos adaptar a elas e viver o melhor que pudermos ainda que não estejamos de acordo com elas.
[ Ricardo Antunes, do livro «Onde está o branco em ti?» ] Enviado por: Vânia Pacheco (Braga, Portugal)